Entrevista realizada para o site Poppycorn, em 24 de novembro de 2006.
Por: Afonso Rodrigues
No dia 28 de outubro aconteceu em 49 países do mundo mais um Dia da Animação, evento promovido pela Associação Internacional do Filme de Animação (ASIFA), que tem o intuito óbvio de promover uma maior visibilidade desta arte que, cada vez mais, assegura seu espaço entre os artistas e também no mercado. Nesta edição de 2006 exatas 19 cidades brasileiras participaram da mostra que existe desde 2002 e, ainda bem, com o acontecimento premiando cidades fora do eixo das grandes capitais. Foi o caso de Juiz de Fora (MG) onde o Dia da Animação foi prestigiado por um público interessado e atuante, já que o evento não se limita a projeção de filmes, mas também promove o encontro com os produtores. Convidamos o artista Alessandro Driê, organizador e participante da mostra em Juiz de Fora, para nos dar informações sobre o todo desta ação cultural e de sua repercussão numa cidade de médio porte.
Poppycorn: Desde quando existe o Dia Internacional da Animação?
Alessandro Driê: Dia 28 de Outubro é o Dia Internacional da Animação (DIA), porque foi nesta data, em 1892 (3 anos antes do cinematógrafo ser apresentado pelos irmãos Lumiere), que Emile Reynaud realizou a primeira projeção do seu teatro óptico no Museu Grevin, em Paris. Essa projeção foi a primeira exibição pública de imagens animadas (desenhos animados) do mundo. A Associação Internacional do Filme de Animação (ASIFA) lançou o “Dia Internacional da Animação” em 2002, e desde então incentiva uma mostra de curtas-metragens nacionais e internacionais.
Em 2006, o DIA aconteceu em 49 países: Africa – Argélia, Gana, Marrocos, Senegal. Américas – Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, EUA, Paraguai, Uruguai. Ásia – China, Coréia do Sul, Formosa, Índia, Indonésia, Irã, Israel, Japão, Jordânia, Líbano, Uzbequistão. Europa – Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Itália, Letônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia, Rússia, Sérvia, Suíça, Turquia. Oceania – Austrália.
Poppycorn: Quantas cidades brasileiras participaram do evento?
Alessandro Driê:No Brasil, foi a 2ª edição do evento, com 19 cidades em todas as regiões: região sul: RS: Porto Alegre, Garibaldi, Santa Cruz do Sul, PR: Curitiba; região sudeste: MG: Juiz de Fora, Belo Horizonte, Sabará; SP: Campinas, São Paulo, São Carlos, Sorocaba, Ribeirão Preto; RJ: Rio de Janeiro; região nordeste: CE: Fortaleza; BA: Salvador; RN: Natal; SE: Aracaju; região centro-oeste: DF: Brasília; norte: PA: Belém
Quanto à programação, a curadoria da Mostra Internacional foi feita pela ASIFA e a da Mostra Nacional pela ABCA. Estas mostras foram comuns a todas cidades, sujeitando a enriquecimentos locais tais como debates, oficinas etc. O diferencial aqui no estado foi a inclusão da Mostra Mineira. Em Juiz de Fora, somou-se mais 2 trabalhos de animadores locais e realizou-se esta mostra um dia antes.
Poppycorn: Em Juiz de Fora aconteceu onde? Foi adequado o local? O público reagiu bem? Teve uma boa platéia e participação?
Alessandro Driê: A cidade possui vários locais para exibição, o acesso a eles depende da divulgação bem como a capacidade de pessoas que o espaço comporta.
O DIA aconteceu na Videoteca do Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM). O local foi adequado, proporcional à divulgação realizada e também se esperava um público menor, por ser véspera de 2º turno da eleição. A sala esteve cheia nos 2 dias de exibição – no 1º havia pessoas sentadas até no corredor!
Havia uma preocupação em direcionar o evento, dada às limitações do tamanho da sala, para um público de faixa etária mais alta. O DIA veio também para formar novas platéias – a visão corrente no Brasil é a de que animação é só para crianças. Mesmo assim, havia algumas delas no DIA, e elas puderam apreciar as animações, que são diferentes do que normalmente elas vêem na TV ou no cinema. As crianças assistiram até o alerta sobre um dos trabalhos ser desaconselhável para menores de 18 anos, quando se retiraram a contragosto…
Vale lembrar que a FUNALFA ( Fundação Municipal que equivale à Secretaria de Cultura) e o CCBM deram o total apoio, seja na cessão do local, como na impressão dos cartazes e na realização do coffee-break após a última exibição, bastante elogiado pelos presentes.
Além da presença de alguns animadores do Rio de Janeiro, tivemos apenas as exibições e coffee-break para comemorar o DIA. É bem possível que numa próxima edição – como vêm sendo cogitado por vários animadores e espectadores em todo o país – tenhamos algo a mais.
Poppycorn: Quantas animações foram exibidas? Quantas de Juiz de Fora?
Alessandro Driê: São 30 animações ao todo. As de Juiz de Fora, foram exibidas na Mostra Mineira, a saber: Miragens – de Rogério Terra Jr.; Poliedro – O Resgate – de Alessandro Driê ; Roque – A Jogada Mortal – de Leo Ribeiro; Tribal – de Henrique Kopke; A Volta do Trem das Onze – de Cacinho Jr., Josy Giarola e Raoni Vidal.
*Observação sobre os animadores:
– Rogério Terra Jr., é cineasta bastante conhecido em Juiz de Fora e “Miragens” é seu trabalho mais recente, o 1º que veio a público – ele me diz ter realizado outro, há cerca de dez anos.
– Alessandro Driê, estreante com “Poliedro – O Resgate”, versão livre do “Poliedro” de Murilo Mendes. É membro da ABCA e trouxe o DIA para a Juiz de Fora.
– Leo Ribeiro, outro membro do ABCA da cidade, tem outros trabalhos como “As Aventuras do Lobo Guará”, “A Feira dos Imortais” e uma vinheta para São João del Rei, capital cultural do Brasil em 2007. Deve lançar um novo trabalho em 35mm, em breve;
– Henrique Kopke, transita pelo eixo BH-RJ, está com outra animação que ainda depende de uma participação em festivais para curtas inéditos;
– Cacinho Jr., possui vários trabalhos premiados, como “Adivinha dos Peixes” e “Alberico Procura”, a maioria em Stop-Motion. Seu trabalho mais recente é uma versão animada da “Viagem à Lua”, de Melies.
Há outras pessoas que estão envolvidas com animação na cidade, seja auxiliando ou produzindo. E não podemos nos esquecer das animações experimentais realizados por artistas plásticos e também dos comerciais de TV.
Recentemente, fomos contemplados no I Festival Nacional de Cinema de Animação, Quadrinhos e Games da Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, o ANIMASERRA, realizado nos dias 03, 04 e 05 de novembro.
“Poliedro – O Resgate”, de Alessandro Driê, ficou em 2º lugar da categoria 2D.
Na categoria Stop-Motion, a animação “Advinha dos Peixes”, sob direção de Cacinho e Diogo Albino, levou o 3º lugar.
Também na 3ª posição, na Categoria Flash, ficou o filme “Tribal”, de Henrique Kopke.
Poppycorn: Qual o interesse pela animação em Juiz de Fora? Reflete o quadro nacional?
Alessandro Driê: O interesse é cada vez maior, tanto pela presença do público no DIA, no CEM (Centro de Educação para o Menor), no Festival Primeiro Plano, como na realização de oficinas durante o mesmo festival. E também não podemos esquecer as exibições esporádicas como há no MAM Murilo Mendes ou no Cine Mezcla. Esta procura se reflete no país inteiro, conferida em festivais e nas outras cidades que realizaram o DIA, não se esquecendo da proliferação das animações comerciais nos diversos canais de TV e nos cinemas.
Já no que se refere à produção, ainda estamos nos organizando, bem como todo o estado de Minas Gerais. Por exemplo, foi comentado num dos debates do Festival Primeiro Plano, que o estado do Rio Grande do Sul está mais adiantado, pois já tem 5 longas-metragens e outros 5 em pré-produção!
Poppycorn: Dá para dar uma contextualizada na criação em animação no Brasil? Fazer um “antes” e um “depois” do Anima Mundi?
Alessandro Driê: Bom, acho que desde a última década a animação acompanha o crescimento da área cinematográfica, junto com a ficção e o documentário. O Anima Mundi veio no início deste “boom”, tendo um papel importante na formação de novas platéias e incentivando a carreira de muitos animadores. Nesta década aumentou o número de festivais e os animadores se uniram na formação da ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação), que nos fortaleceu muito, seja na elaboração de editais públicos ou na realização do DIA, por exemplo. Somando isso à maior acessibilidade às ferramentas de criação, temos a cada ano um aumento expressivo de produções.
Poppycorn: O acesso às técnicas está mais amplo? O computador ampliou o acesso técnico ou é mais uma ferramenta?
Alessandro Driê: Sim, não foi apenas o computador que ficou mais acessível, como vários equipamentos – ilhas de edição e câmeras de vídeo, por exemplo. Basta lembrar que, após a edição, o resultado final, pra citar dois exemplos, é um DVD ou a transmissão pela Internet. É inevitável que o computador tenha uma participação importante.
Embora muita gente se deslumbre e fique preso à informática, as outras técnicas ainda sobrevivem, como a animação com massinha, com recortes ou o desenho direto na película… Daí a importância de mostras como o DIA.
Com esta explanação concedida por email, temos uma boa visão de como eventos deste tipo podem contribuir para a visibilidade e incentivo aos artistas que atuam na área. Um dia é pouco para uma boa amostragem de animação consistente no país. O gênero merece mais, muito mais.
Fonte: Poppycorn