Matéria publicada no blog Desinformadosss, de 17 de junho de 2012.
Por Ugo Leonardo Soares
Motivo atual de uma disputa que envolve o poder público, a sociedade civil e o interesse privado. O Cine Excelsior, inaugurado no dia 8 de fevereiro de 1958, com capacidade para abrigar até 1250 pessoas, e desde então transformado em uma referência cinematográfica, não só para Juiz de Fora, mas para toda Zona da Mata mineira, está ameaçado de extinção
Em poder de um empresário local, que tem como prioridade destruir o antigo cinema para a criação de um estacionamento automotivo, o Excelsior é hoje alvo de disputa entre populares e movimentos organizados, representado pelo grupo Salvem o Cine Excelsior, que exigem que o COMPPAC (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural) tome a decisão de tombar o cinema, ratificando assim sua preservação para a população, e a prefeitura municipal
O vereador petista Flávio Cheker, que viu o cinema ser fechado ao final de 1994, período o qual, coincidentemente, iniciava sua carreira no legislativo com seu primeiro mandato, conta que ao ser acionado pelos moradores do condomínio onde está instalado o cinema, preocupados com o fechamento do cinema e com a deterioração do espaço, resolveu de imediato convocar o poder legislativo para uma audiência pública, dando início a uma série de expedientes em prol da manutenção do espaço
Já o jornalista e produtor cultural, Jorge Sanglard, que foi quem denunciou pela primeira vez a situação do cinema através de matérias veiculadas na imprensa local, lembra que à época o cinema chegou até a ter aprovada a declaração de interesse cultural pelo município, representado pelo então prefeito Custódio Matos, mas o processo acabou sendo indeferido pelo Ministério Público Estadual por meio de ação impugnada pela Companhia Franco Brasileira, então proprietária do cinema
Sobre o episódio Flávio salienta que, apesar do então prefeito, também em seu primeiro mandato, Custódio Matos ter assinado a Declaração, o documento foi enfraquecido por uma série de erros cometidos em sua condução por parte da prefeitura, o que levou o Ministério Público a dar parecer favorável aos proprietários. Cheker afirma que aquela foi a primeira chance perdida pela cidade para manter o Cinema Excelsior como um bem a favor da cultura local
Em novembro de 2011 mais um capítulo dessa disputa foi iniciado. Após a divulgação de fotos em que as cadeiras do cinema estavam sendo retiradas e jogadas em cima de um caminhão, o arquiteto e cineasta Alessandro Driê, tratou de divulgar o fato através das redes sociais, que rapidamente formou um coro de indignados e defensores da causa. Foi daí que surgiu o movimento Salvem o Cine Excelsior, mobilização de artistas, produtores culturais, estudantes, moradores da cidade e demais pessoas interessadas na preservação do espaço do antigo cinema
Para o professor e escritor Fernando Fábio Fiorese, Juiz de Fora reflete, no ambiente municipal, o que acontece no cenário nacional. A perda dos espaços dedicados aos cinemas de rua para a especulação do mercado imobiliário. Fiorese critica ao declarar que “o Brasil é um país esquisito, onde as pessoas deram certo mais o governo deu errado”. Ele ainda cita a importância de se preservar o espaço que originou a iniciação, seja ela artística ou humanística, de uma geração que ia ao cinema para conhecer o mundo, as pessoas ao seu redor e a sociedade em que estavam inseridas
No dia 4 de junho de 2012 mais um pedido de tombamento foi indeferido pelo COMPPAC, que, de acordo com seu parecer, julga que o cinema não tem valor cultural e histórico para merecer a proteção do poder público.
Fonte: Desinformadosss