Matéria publicada pela Tribuna de Minas, em 27 de outubro de 2007.
Pela segunda vez, Juiz de Fora integra mostra simultânea realizada em todo o mundo para comemorar o Dia Internacional da Animação
Fernanda Fernandes
Repórter
A animação vem evoluindo a olhos vistos, e Juiz de Fora está marcando presença neste crescimento. Prova disso é o número de produções locais incluídas na Mostra Mineira, que integra a programação do Dia Internacional da Animação (DIA) na cidade. Celebrado amanhã, o maior evento do gênero acontece simultaneamente em mais de 30 países. Por aqui, a idéia dos organizadores é fazer o Brasil parar para ver filmes de animação. Por enquanto, 50 cidades integram essa proposta e receberam DVDs com seleções de curtas nacionais e estrangeiros, totalizando uma hora de exibição cada.
Em Minas, além de Juiz de Fora, Belo Horizonte, Uberlândia e Betim estarão sintonizadas amanhã na mesma programação, que inclui as técnicas mais variadas. Promovido pela Associação Brasileira de Cinema de Animação (ABCA) em parceria com Associação Internacional do Filme de Animação (Asifa), o evento não tem fins lucrativos e consegue realizar-se graças à dedicação de centenas de voluntários em todo Brasil e ao apoio de instituições como o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), que encampou a idéia e aproveita para lançar o projeto CineMamm.
Painel da produção
No ano passado, a Mostra Internacional trouxe filmes de Portugal e Canadá. Desta vez, a partir das 16h, o público poderá conhecer curtas da Hungria e da França. Ao mesmo tempo, as animações brasileiras serão projetadas nos Estados Unidos, na Rússia, na Bulgária, na Polônia, na Coréia e nos demais países integrantes da Asifa.
Os curtas nacionais exibidos por aqui trazem trabalhos de vários estados brasileiros. Entre eles, está “Vida Maria”, do cearense Márcio Ramos, escolhido pelo público o melhor da categoria na Mostra de Cinema de Tiradentes deste ano. Do Nordeste ao Sul, chega-se a “Leonel Pé-de-Vento”, do gaúcho Jair Giacomini, exibido ano passado no Festival Primeiro Plano. No meio do caminho, ainda dá para encontrar inspiração no cordel com “Disputa entre o diabo e o padre pela posse do Cênte-Fór na festa do santo mendigo”, de Francisco Tadeu e Eduardo Duval.
Na Mostra Mineira, o organizador local e membro da ABCA, Alessandro Driê, destaca o grande número de curtas realizados por estudantes universitários, com origem na UFJF, na Escola de Belas Artes da UFMG e no curso de cinema da Universo. Serão exibidos curtas realizados com crianças em oficinas, videoclipes, trabalhos experimentais e obras realizadas por profissionais conhecidos como Sávio Leite e o juizforano Léo Ribeiro. As demais produções da cidade são de Cacinho, Cassiel Weitzel, Breno Bitarello e Nicole Leão, além do trabalho experimental de alunos do curso de Artes da UFJF, com o recém-fundado Núcleo de Animação do Instituto de Artes e Design.
Noventa anos no Brasil
Além dos filmes nacionais selecionados, a ABCA incluiu na mostra um pequeno clipe com algumas das animações brasileiras mais representativas dos últimos anos, em homenagem aos 90 anos da animação no país. Por aqui, a data tem como marco o lançamento de “O kaiser”, de Alvaro Marins, assinado com pseudônimo Seth. A primeira projeção foi em 22 de janeiro de 1917, no Cine Pathé. O filme mostra o imperador da Alemanha cobrindo um globo terrestre com um capacete, mas o globo cresce e engole o kaiser. Há apenas alguns trechos da obra na Cinemateca de São Paulo.
Desde 1917, a produção se ampliou. A edição de agosto da revista “Tela Viva News” estampou a manchete “Procura por animação cresce 153% em quatro anos. Mas, apesar do crescimento, os problemas de distribuição e exibição do filme de animação persistem. “Não podemos ficar restritos a festivais”, defende Leo Ribeiro, criticando a falta de espaço para a produção brasileira na TV. Ele reclama ainda que quase não há programas que paguem direitos autorais. “Não basta exibir. É preciso gerar receita para o realizador para a animação se estabelecer como mercado”, sustenta. Entre as opções atuais, estão o Animania, da TVE, que exibirá um especial no DIA, às 19h, e o Anima Mundi Brasil, que vai estrear no Canal Brasil.
Desde o começo do ano, Leo integra uma equipe de animadores que viaja pelo Brasil realizando oficinas com crianças e adultos envolvidos na rede pública. É o projeto O cinema vai à escola, realizado pelo Sesc e pelo Anima Mundi. “Chegamos a alguns lugares que não têm nem cinema, mas onde a gente sempre descobre talentos. Depois que vamos para casa, eles montam núcleos de animação”, diz o juizforano, que já esteve em São Luís do Maranhão, Palmas, Tubarão, Criciúma e muitas outras cidades.
Confira as mostras
Mineira
“Viagem à lua”, de Cacinho
Técnica mista
“Vida, viva, sobreviva!”, de Cassiel Weitzel de Araújo
Digital experimental
“Bem vindo à máquina”, de Breno Bitarello
Digital experimental
“Bandalheira”, de Sérgio Vilaça
2D
“Sinfonia”, de Simon Brethé
2D
“Nós de gravata”, de Mateus Di Mambro
2D
“A língua do nhém”, de Marcelo Branco
Flash
“Mercúrio”, de Sávio Leite
Massa de modelar e 2D
“Somos passageiros…”, de Jefferson AV
Pintura sobre película 16mm
“O andar superior”, de Leo Ribeiro
2D
“Homem espuma”, de Fernando Mendes
Rotoscopia
“O perdão muda o mundo?”, de Alexandre Costa
2D
“Cuco”, de Samira Daher
Desenho sobre papel
“Bons sonhos”, de Cibelle Signorini e Fernando Pinheiro
Mista
“Pipo pipa”, de Sheila Neumayr e Marconi Loures
Recorte digital
“Start motion”, de Nicole Leão
Pixilation
“Moradores do 304”, de Leonardo Catapreta
Recorte digital e animação 2D
Nacional
“Juro que vi: Matinta Pereira”, de Humberto Avelar
Lápis sobre papel
“O sapo e a mosca”, de Thomas Larson
Stop-motion
“Leonel pé-de-vento”, de Jair Giacomini
2D
“Cidades fantasma”, de Lisandro Santos
2D
“Mobsquad”, de Fons Schiedon e Birdo Studio
2D/3D
“Disputa entre o diabo e o padre pela posse do Cênte-Fór na festa do santo mendigo”, de Francisco Tadeu e Eduardo Duval
Lápis sobre papel e 2D
“Passo”, de Alê Abreu
Lápis e aquarela
“Vida Maria”, de Márcio Ramos
3D
“Lúmen”, de Wilian Salvador
Stop-motion
Internacional
Filmes húngaros
“Hogyan repüljünk” (“Como voar”), de Tibor Nádas
2D
“Tündérkék”, de Katalin Riedl
2D
“Szupermarket” (“Supermercado”), de Csilla Temesvári
2D
“Siker” (“Sucesso”), de Zoltán Lehotay
2D
“AU!”, de Magdolna Hegyi
2D
“Életvonal” (“História de vida”), de Tomek Ducki
3D
Filmes Franceses
“Le moulin” (“O moinho”), de Florian Thouret
Desenho sobre papel, 2D/3D
“Building” (“Construindo”), de Marco Nguyen, Pierre Périfel, Xavier
Ramonede, Olivier Staphylas e Rémi Zaarour
2D
“Madame”, de Eléa Gobbe-Mevellec
Desenho sobre papel
“Open book” (“Livro aberto”), de Iris Bonavitacola,Virginie Hanrigou,
Raphaël Lev, Carole Maurel e Augustin Paliard
Técnica: 2D
“Trees’ migration” (“Migração das árvores”), de Joanna Lurie, Cécile Bonnet
3D
“Walking” (“Caminhando”), de Alexandre Bayle
Desenho sobre papel, rotoscopia, live action, 2D/3D
“Virus”, de Baptiste Buonomo
Live action, 2D
“Le papillon” (“A borboleta”), de Zihi Zhang
3D
Conheça as técnicas de animação
2D
Tradicional na TV e no cinema. É o popular desenho animado e, atualmente, bastante empregado em conjunto com o computador. Em outros casos, usam-se materiais tradicionais, como lápis ou aquarela
Flash
Normalmente similar ao 2D, porém com facilidades oferecidas pelo software Flash
3D
Muito popular atualmente, totalmente feita em computador, explora os recursos gráficos em três dimensões. É como dar movimentos a uma escultura, só que virtual
Stop motion / Clay motion
Popularmente conhecida como animação de massinhas. Pode ser feita com sucata, alimentos e outros objetos menos nobres, como cigarros
Pixilation
É um tipo de animação ou stop motion com pessoas
Desenho direto na película
A película utilizada tradicionalmente no cinema (similar ao filme fotográfico) é utilizada como suporte para o desenho, quadro a quadro, naquele espaço minúsculo
Rotoscopia
É o processo que consiste em redesenhar os quadros de um vídeo: usar a imagem como base e transformá-la em desenho, ou seja, vetorizá-las
Fonte: Tribuna de Minas